A disfunção erétil em homens jovens.
- Katia C Barbosa
- 26 de ago. de 2018
- 4 min de leitura
Recentemente, tenho recebido em meu consultório uma leva de homens jovens, na faixa dos 25 anos, com uma problemática que não se esperaria em jovens com essa faixa de idade: a disfunção erétil.
A disfunção erétil pode ser definida como a incapacidade persistente de manter o pênis ereto com rigidez suficiente para permitir a relação sexual (Tierney et all., 2004). Sabendo-se que a incidência aumenta com a idade.
Segundo estudos, a disfunção erétil afeta 20% dos homens na faixa dos 40 a 64 anos, aumentando para 43% dos maiores de 65 anos (Harris & Mckenzie).
Entre 2002 e 2003 foi conduzido um estudo sobre a vida sexual do brasileiro onde verificou-se a prevalência da DE entre a população, onde contou com a participação de 2.863 homens acima de 18 anos. Foi verificado que 45% desses homens apresentavam algum grau de DE. Embora o estudo tenha apontado que embora sofram influência de vários fatores como sociais e econômicos, a grande maioria desses casos teve origem fisiológica. O que aqui não nos interessa, visto que nossos pacientes não apresentam tal quadro, como veremos a seguir.
Dessa forma, fomos investigar a literatura em busca de pistas que nos ajudasse a propor uma reflexão do que pode estar levando esses jovens a desenvolver esta incapacidade numa idade ainda precoce.
Quem são eles? O que desejam? Como podemos ajudá-los?
Rapazes bonitos, com vida social ativa, com trabalho fixo, vida familiar comum a qualquer um de nós. O que nos chama atenção é o nível de ansiedade com que estes homens chegam ao consultório, as crises que sofrem e o alto grau de sofrimento psíquico que os leva a protelar até o último momento uma consulta a um profissional especializado, além da vergonha que sentem. São homens saudáveis, sem uso de medicação de uso contínuo para quaisquer tipos de problemas de saúde e seus exames estão em dia, não possuem problemas vasculares no pênis, nem diabetes mellitus, muito comuns em quem apresenta este determinado quadro, também não fazem uso de tabaco, praticam esportes e seus níveis de estresse não prejudicam suas atividades laborais, o que nos sugere que, sua disfunção erétil não está, provavelmente, ligada a aspectos orgânicos ou fisiológicos. Porém, a parte psicológica aqui nos chama atenção, visto que são homens com histórico familiar de ansiedade, são também ansiosos ou já sofreram de crises de ansiedade em algum momento de suas vidas. São muito vulneráveis a ditadura social dos protocolos de desempenho e resultados. Em outras palavras, preocupados com sua performance sexual, tamanho do pênis, opinião das companheiras, quantidade de relações e ejaculações, desconhecem a própria sexualidade e o próprio corpo, limitando-o a um mero processo robótico, ele se torna uma máquina e como tal, espera-se eficiência. E o mais preocupante, estão completamente alienados de suas emoções, embora apresentem personalidade sensível e demonstrem empatia com o outro. São homens jovens com uma baixa autoestima considerável.
Papéis sociais de gênero podem estar implicados nesse fenômeno? Provavelmente, sim. Nossa cultura latina cria meninos com a necessidade de provar sua virilidade, como se sua sexualidade estivesse limitada tão somente a um órgão genital específico, excluindo totalmente a dinâmica complexa que envolve a sexualidade humana.
A forma como o homem lida com sua corporeidade e tudo o que isso traz em si, incluindo a relação saúde-doença, está envolta numa construção social que já existia muito antes do seu nascimento e que vai se perpetuando ao longo de sua existência. Padrões tradicionais passam a coexistir com outros modelos mais modernos de construção de identidade social, trazendo muita confusão na perspectiva de homens acostumados a seus papeis mais tradicionais de atuação.
É muito desolador assistir a esse quadro, onde nossos meninos ainda tenham por obrigação o cumprimento de papéis sociais que muitas vezes estão em total desacordo com suas personalidades, gerando uma grande desordem psíquica, que não estão preparados para lidar.
Não somente as relações de gênero são determinantes nesse aspecto, mas também as crenças, vivências, classe social, entre outros aspectos devem ser considerados ao analisarmos o comportamento de homens com DE na nossa cultura. Precisamos de uma educação sexual mais igualitária, onde homens e mulheres possam desempenhar seus papéis de forma mais livre e autêntica.
O tratamento:
Muitos dos nossos pacientes utilizam ou já utilizaram medicamentos como o Viagra ou Cialis para melhorar o desempenho. E apesar de mostrar eficiência química em casos de DE, muitos pacientes se frustraram, pois, essas medicações, não conseguiram vencer a “barreira” psíquica na qual estão envoltos diante deste quadro. Um paciente relatou: “Eu não consegui nem com o Viagra”, mostrando seu desapontamento e a necessidade urgente, que o levou à terapia na busca de respostas.
O tratamento envolve uma anamnese completa do paciente e do que o trouxe à terapia, assim como também a associação, em casos graves/moderados, de medicação e psicoterapia ou psicoterapia em casos mais leves. A parceria médico/terapeuta é muito importante, pois muitos destes casos necessitam de uma intervenção multidisciplinar. Os pacientes aprendem a reconhecer como suas crises ansiogênicas afetam o seu desempenho sexual e aprendem a lidar melhor com elas. Ressignificam, com a terapia, o valor e o significado da sexualidade em suas vidas, adquirindo mais liberdade em suas escolhas, assim como mais leveza nas suas relações, tirando o peso social de “ser perfeito” a todo custo. Descobrem que são apenas humanos.
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